Frase

"Não sei, deixo rolar. Vou olhar os caminhos... o que tiver mais coração, eu sigo." (CFA)







sexta-feira, 11 de junho de 2010

"Se precisas estar longe, quero-a constantemente". Marlene Nea


QUE SAUDADE!!!!!!

Esta semana, quinta-feira, fará 3 semanas que minha vó desencarnou. Seria, também, a semana do seu aniversário, dia 16 de junho. Inevitável não lembrar, não pensar, não sentir....
O peito aperta tanto e a garganta dá um nó de tal forma que parece, as vezes, asfixiar. Respiro fundo, na tentativa de eliminar esta sensação que ainda, por muitas vezes, se faz presente em mim. A saudade ainda dói. Normal, é recente. Quero mesmo acreditar na metamoforse do sentimento, na passagem da dor para a lembrança suave.

Quando choro, na realidade, é mais pela saudade de um passado distante, de uma época que não retorna, do que pelos poucos dias atrás, em que ela ainda estava aqui. Destes, não tenho como sentir falta. Ver um ser amado numa cama de hospital, inconsciente, inerte à tudo... chega uma hora, que a gente até pensa na morte como um alívio, um consolo, um descanso – para a pessoa e para você (na verdade, isto funciona mais na teoria, porque na prática, quando acontece, é outra história). É no que me apego, para seguir em frente. Pra ela, foi melhor.

Sinto saudades da infância maravilhosa que tive.... de uma época em que meus afazeres se resumiam apenas a brincar e SORRIR, na maior parte do tempo. Fase livre de preocupações. Fase em que todos fazem de tudo para te poupar do sofrimento.... fase em que ainda é possível e permitido acreditar em contos de fada, em finais felizes. Na infância, pode-se mostrar aos outros as mais irreverentes fantasias, que ninguém as julga ou recrimina. Se eu pudesse, seria criança para sempre.

Minha vontade, agora, é de escrever TUDO o que lembro da minha vó, tudo o que ela me ensinou e fez por mim. Mas sei que não é possível, pois, certamente, as palavras não dariam conta de resumir a imensidão do que ela representa. Sem contar que a memória é um tanto quanto traiçoeira, pois, a medida que o tempo passa, algumas coisas vão se perdendo: certas lembranças, a voz, a fisionomia... vai ficando tudo cada vez mais distante, o que nos leva a manter um esforço constante para não esquecê-las.

Certamente, não me recordo de todos os momentos. Mas lembro dos melhores, dos mais importantes, dos INESQUECÍVEIS!

Quando pequena, era ela quem ficava comigo durante o dia, enquanto minha mãe ia trabalhar. Meu uniforme ficava no seu armário. Almoçávamos sempre juntas. Comíamos a comida de uma pensão, que ela sempre encomendava. Adorávamos as batatas-fritas;

Minha facilidade (e adoração!) com a língua portuguesa e com a escrita, se deve, principalmente, às coisas que ela me ensinou, e às vezes em que fazia questão de vir me contar as “pérolas” que ouvia na televisão, automaticamente corrigindo-as e me ensinando como se falava certo;

E com relação à escola? Ih, são tantas... todo dia de noite ela vinha perguntar: “- Tem dinheirinho??? E se eu dissesse que tinha, ela falava: “Tem certeza?? Não quer levar mais?? Pode precisar, se quiser fazer um lanche...” Ai, ai.... sempre tão preocupada e cuidadosa. E o casaco? Sem exceção, TODAS as vezes que eu ia sair, ela falava: “Tá levando um casaquinho?” Por vezes, eu ficava impaciente com isso. Mas hoje, sinto saudades. Engraçado como o tempo se encarrega de apagar tudo de ruim e manter vivas só as coisas boas;

Impossível não sentir saudade das inúmeras vezes em que, sem sono, eu corria pro quarto dela, pois sabia que ela ainda estaria acordada, vendo TV, até altas horas;

...
E não acabam aí... mas, como já disse, “missão impossível” dizer todas.
Foram MUITAS coisas boas vividas nesses 22 anos que tive o prazer de conviver ao lado dela. Uma mulher de garra, inteligente, sensível.... Sou eternamente grata à tudo que ela fez, e à Deus por ter me permitido habitar neste lar, composto, principalmente por ela e pela minha mãe.

Eu sempre tive medo desse momento. De perdê-la. Além da saudade que eu sabia que sentiria, tinha medo de bater um certo remorso pelas vezes em que não tive tanta paciência com suas repetições ou com o trabalho e a preocupação que ela nos deu, nos últimos anos (oriundos do Alzheimer), por outras em que deixei de dizer coisas boas, enfim.... Mas sei que fiz o que pude. Sei que, apesar das falhas, fui uma boa neta (e ela sempre me dizia isso). E quem não tem falhas?? Ela também teve as dela, mas vejo como ficam tão pequenas, praticamente invisíveis diante da grandeza do AMOR que temos e sempre teremos uma pela outra. Onde quer que ela esteja, imagino que também tenha chegado à esta conclusão.

Vou terminar o texto com duas frases sábias que ELA mesma escreveu... são frases de duas canções compostas por ela (e que, em breve, eu aprenderei a tocar). E é justamente nesta sabedoria transmitida por ela, que eu vou me apoiar.

“A saudade é um sentimento que, pra uns só traz tristeza. Mas, pra mim, porém, saudade é encanto e é beleza. Ela, para mim, és tu, só que abstratamente. Se precisas estar longe, quero-a constantemente.”

“Por que só se falar de mágoas? Por que não falar da saudade? Dizem que saudade é ruim, mas não é não, ela te traz pra mim.”


Saudades, sim, SEMPRE!!!!! Prometo, vó, que vou me esforçar pra mandar embora a tristeza, assim que conseguir. Até um dia. Obrigada por TUDO! Saudades. Te amo.

5 comentários:

  1. Meu amor! Impossível ler esse texto sem me emocionar. Que lindas suas palavras.... e é uma novidade pra mim saber que sua vó compunha! Tão sábias e verdadeiras essas frases ....
    Queria muito poder te reconfortar com palavras.. mas te ofereço todo o meu carinho e amor, sempre.
    Tenho certeza que sua vó agora, está muito feliz vendo a mulher que a neta tão amada dela se transformou. E te peço amiga, para que nunca esqueça ou deixe de lado esses valores tão nobres transmitidos por ela.

    Bjs da sua amiga que te ama muito, da sua irbãzinha, Nono

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  2. Linda as palavras MOna...escrever essas coisas deve aliviar um pouco o aperto do coração.
    Infelizmente tive poucas oportunidades de estar com ela, mas me lembro bem de uma senhorinha extremamente simpática. Ela valorizava muito seu aprendizado....lembro dela me dizendo que também tinha tido um professor particular, e que a situação fazia ela lembrar muito esse professor. Acho que de matemática também. AH, e toda preocupada, sempre, se eu estava precisando de alguma coisa, se estava com sede...se preocupava demais, uma fofa. As vezes no final da aula, ia com agente conversando até a porta, queria sempre contar seus dotes musicais, cheia de orgulho da neta.
    Uma vez ouvi uma coisa bastante bacana que me marcou bastante e acho que cabe na ocasião. Chega um momento que a energia, o amor, a serenidade, a vivacidade do espiríto não cabe mais no corpo, ele precisa se libertar, se despreender daquele corpo, como um cárcere duma prisão.
    Um beijão, fica com Deus, sse precisar de um amigo pra conversar esamos ai. :)

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  3. Minha querida, eu sei que uma perda, como essa, é irreparável. Porém, o mais lindo é ver o reconhecimento das coisas boas, essas sim, valem à pena! São essas que ficarão marcadas para toda a vida. Quantas coisas maravilhosas que você mencionou sobre a sua avó, e que fizeram de você, o que você é hoje. São bens preciosos, os quais sua avó, nessa missão, tinha que te passar. E você acolheu tudo isso, e muito bem!
    Amiga, Deus acalmará seu coração, com o tempo. E lembre-se de que Ele é a ligação direta entre você e sua avó. Um grande beijo, e sabe que pode contar comigo, sempre!! Ass: Taty

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  4. Filha amada.. Faço, minhas, as suas palavras... Faço minha, a sua saudade.. IRREPARÁVEL!!
    Sua avó sempre amou vc de uma forma muito intensa e o que, pra vc, pode ter parecido sofrimentos, pra ela era prazer.. vc foi a razão da vida dela e isso é lindo. Obrigada, filha, por ter entendido tanto a sua avó. Amo VOCES duas mais do que a mim mesma. A dor,a saudade e as lágrimas, me impedem de falar qualquer coisa...

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  5. Moninha, minha querida.

    A saudade é a falta que nos fez bem.

    Sentimos falta daquilo que nos fazia feliz, daquilo que dava algum sentido bom, daquilo que, se pudéssemos, levaríamos conosco por toda a vida.

    Vó é uma segunda mãe. Não tive uma assim tão próxima quanto você teve. Mas sempre senti falta. E essa falta que sentimos é diferente.

    Em minha memória há o vazio.
    Em sua memória ha um álbum de belas fotos, belos vídeos, alguns perfumes e sensações.

    Portanto, aproveite-os !

    Deixe-a descansar em paz, mas lembre-se dela sempre que quiser usando esta rica capacidade que temos.

    E se bater uma saudade de ombro amigo, pode usar e abusar. Sabe que aqui o que não falta é espaço.

    Um beijão, meu amor... cheio de saudades...

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