Frase

"Não sei, deixo rolar. Vou olhar os caminhos... o que tiver mais coração, eu sigo." (CFA)







terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Normose

"E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por
aqueles que não podiam escutar a música."
Friedrich Nietzsche

"NORMOSE" (a doença de ser normal)

Todo mundo quer se encaixar num padrão.
Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar.
O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido.
Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se normaliza", quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento.
A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós?
Quem são esses ditadores de comportamento que "exercem" tanto poder sobre nossas vidas?
Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados.
A normose não é brincadeira.
Ela estimula a inveja, a auto-depreciaçã o e a ânsia de querer ser o que não se precisa ser. Você precisa de quantos pares de sapato?
Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?
Então, como aliviar os sintomas desta doença?
Um pouco de auto-estima basta.
Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo.
Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.
Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.
Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais e tentam viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada.
Por isso divulgue o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.

Michel Schimidt
Psicoterapeuta

sábado, 23 de janeiro de 2010

Promessa é dívida.

"À medida que envelheço, presto menos atenção ao que as pessoas dizem; simplesmente observo o que fazem." (Andrew Carnegie)

Falar é fácil. Fazer é que é difícil. E é pra poucos.
Pra quem tem um bom conhecimento da língua portuguesa e de suas regrinhas, então, fica mais fácil ainda. Beneficia-se quem tem boa lábia, jogo de cintura e afinidade com as palavras. O que mais vejo, por aí, é gente falando “bonito” pra convencer iludidos ouvintes. Promessas, planos e metas. Na política, então, é o que mais aparece. Mas agir que é bom....
Nas relações humanas não é diferente. Quantas vezes nos desiludimos ao esperar a realização de uma ação tão falada e prometida por alguém? Incontáveis vezes.
Aposto que não fui só eu que já ouvi de um carinha, na boate:
“ - Gostei de você, gostei de ficar com você, do seu jeito. Taí, me dá seu telefone pra gente marcar alguma coisa de novo?” E aposto que não fui só eu que tomei um chá de cadeira, acreditando no discurso falso que me foi apresentado. Foi duro, mas, tive que dar um corte no ego ao compreender que, em situações como esta (boate, nights e afins) é praticamente impossível ser merecedora de um olhar diferenciado, que valorize o que realmente sou. Difícil querer me fazer notada pelos meus valores, se o que conta nesta hora é, puramente, o nosso cartão de visitas: a beleza exterior. Mas eu só queria entender porque falar, se não irá fazer. Eita, gente sem palavra.
Cansei de ouvir lindas promessas e não ver atitudes. Cansei do abstrato. Da ilusão. Da mentira. Da falta de palavra. Sobretudo porque tudo isso é tão desnecessário e tão simples: é só não prometer o que não irá cumprir! Já não chega de dívidas?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ah, que saudades que eu tenho da Aurora da minha vida...

Razão e coração raramente andam juntos. Com frequencia, nos obrigam a dissociá-los, uma vez que quando utilizamos um, não conseguimos usar o outro. Se se é emotivo ao extremo e as ações são comandadas pelo o coração e a intuição, a razão é deixada de lado. Já quando se age racionalmente, isto pode soar como uma frieza de sentimentos. Desde que me entendo por gente, o coração é quem determina minhas ações. Sigo SEMPRE o que sinto, apesar de pesar os prós e contras de cada situação. No entanto, por falta de opção, pela primeira vez tive que tomar uma decisão racionalmente. O coração não se contentou, mas a razão falou mais alto. Não era o ideal, mas era necessário. Coloquei minha vó numa casa de repouso, ontem (depois de mais de um ano de luta e cansaço oriundos dos cuidados dedicados à ela, vítima de 2 AVC´s e Mal de Alzheimer). Não consigo seguir em frente para descrever uma situação como esta e o que sentem as pessoas que estão em volta, lidando com a doença. O que consigo dizer, no momento, é que.... crescer é complicado.

Eu e a Vida
Jorge Vercilo
Composição: Jorge Vercillo

Vem me pedir
além do que eu posso dar
É aí que o aprendizado está
Vem de onde não sonhei
me presentear
Quando chega o fim da linha
e já não há aonde ir
Num passe de mágica
A vida nos traz sonhos pra seguir
Queima meus navios
pr'eu me superar
as vezes pedindo
que ela vem nos dar
o melhor de si

E quando vejo,
a vida espera mais de mim
mais além, mais de mim
O eterno aprendizado é o próprio fim
Já nem sei se tem fim
De elástica, minha alma dá de si
Mais além, mais de mim
Cada ano a vida pede mais de mim
mais de nós, mais além

Vem me privar pra ver
o que vou fazer
Me prepara pro que vai chegar
Vem me desapontar
pra me ver crescer
Eu sonhei viver paixões, glamour
Num filme de chorar
Mas como é Felini, o dia-a-dia
Minha orquestra a ensaiar
Entre decadência e elegância,
zique-zaguear
Hoje, aceito o caos.

E quando vejo,
a vida espera mais de mim
mais além, mais de mim
O eterno aprendizado é o próprio fim
Já nem sei se tem fim
De elástica, minha alma dá de si
Mais além, mais de mim
Cada ano a vida pede mais de mim
mais de nós, mais além

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Incontrolável Mal de Raiz

Por vezes, já sentiu que seus parceiros tornaram-se mais cobiçados após iniciarem um relacionamento com você? É incrível como parece que basta colocar o olho em alguém para que diversos olhares virem-se na mesma direção. Será, talvez, porque antes, você não notara o encanto da pessoa cuja sua libido fora direcionada, e a partir do momento em que repara, você começa a olhar, também, para as coisas a sua volta (percebendo, assim, o campo do desejo que a rodeia)? Ou será que a energia do Universo é tão forte a ponto de fazer disparar o desejo dos outros na medida que o seu é dispendido? Lacan apropriou-se de um pensamento de Hegel, cujo sentido é semelhante a este que há pouco questionei: “O desejo humano é sempre desejo de outro desejo”, ou seja, a coisa em si não é tão desejada quanto a partir de um olhar que lhe é dado a priori. De fato, o que acontece é que sentimos que, antes de nós, nosso parceiro “nem era tão notado assim, vai.” De repente passamos a enxergá-lo como o galanteador, só porque este perfil nos é apresentado, na medida em que nos relacionamos amorosamente. E aí, surge um certo receio de que outras pessoas descubram este encanto que viemos descobrindo, ao longo dos dias, na convivência com a pessoa amada. Talvez a isto possa dar-se o nome de ciúme: aquele medo - que povoa o local mais fundo do coração – de que outra pessoa seja merecedora do mesmo amor que você é, do mesmo olhar, do mesmo toque, do mesmo carinho. O que penso sobre o ciúme é que, em superdose, torna-se um veneno para o relacionamento. Me parece ser um grande aliado da insegurança. Na medida em que ele se torna constante, cria-se um ambiente de tensão onde o que se pretende é controlar os passos do outro, ainda que em pensamento. E não há relacionamento que dure com a individualidade ameaçada. Que “o ciúme é um mal de raiz” (como dizia o poeta Vinícius de Moraes), a maioria deve concordar, mas penso ser unânime a difículdade de fazer-se de bobo ou fingir-se de desentendido quando alguma ameaça bate à porta e a iminência de perder o ser amado vem à tona.

(Monalise Monteiro)